Não o ouvi aproximar-se, mas quando levantei a cabeça vi que o patrão me observava em silêncio a poucos metros de distância. Levantei-me e aproximei-me dele como um cão bem amestrado. Perguntei a mim próprio se ele saberia que o meu pai estava enterrado naquele lugar e se me teria marcado encontro ali precisamente por isso. O meu rosto devia ler-se como um livro aberto, porque o patrão abanou a cabeça e poisou-me a mão no ombro.- Não sabia, Martín. Lamento muito.Não estava disposto a abrir-lhe aquela porta de camaradagem. Voltei-me para me libertar do seu gesto de afecto e comiseração e apertei os olhos para conter as lágrimas de raiva. Comecei a aproximar-me da saída, sem esperar por ele. O patrão aguardou alguns segundos e depois resolveu seguir-me. Caminhou a meu lado em silêncio até chegarmos à porta principal. Ali chegado, parei e olhei-o com impaciência.- E então? Tem algum comentário a fazer?O patrão ignorou o meu tom vagamente hostil e sorriu de modo paciente.- O trabalho é óptimo.- Mas...- Se tivesse de fazer alguma observação, seria que acertou em cheio ao construir uma história do ponto de vista de uma testemunha dos factos que se sente vítima e fala em nome de um povo que espera a chegada desse salvador guerreiro. Quero que continue por essa via.- Não lhe parece forçada, artificiosa...?- Muito pelo contrário. Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas acções e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, deixam de estar ao nosso nível e transformam-se em inimigos. Deixamos de ser agressores para nos convertermos em defensores. A inveja, a cobiça ou o ressentimento que nos movem ficam santificados, porque pensamos que agimos em defesa própria. O mal, a ameaça, está sempre no outro. O primeiro passo para acreditar apaixonadamente é o medo. O medo de perdermos a nossa identidade, a nossa vida, a nossa condição ou as nossas crenças. O medo é a pólvora e o ódio o rastilho. O dogma, em última instância, é apenas um fósforo aceso. É aí que o seu trabalho tem um ou outro buraco.
Depois de ter descoberto O Cemitério dos Livros Esquecidos e de ter devorado por completo A Sombra do Vento, lancei-me nesta leitura cheia de expectativas.
Já tinha visto variadas opiniões em que diziam que este segundo volume, apesar de toda a magia presente nos livros de Zafón, não era tão viciante como o primeiro e que a história seria um pouco mais arrastada. Terminada a leitura, partilho da opinião geral: apesar de muito bom, não me agarrou da mesma forma que o anterior. Não sei se pelo desenrolar da acção, pelos personagens (alguns que conhecemos em A Sombra do Vento) ou apenas pelo facto de este volume, apesar de ser apresentado como continuação, a nível temporal, ser anterior ao outro. Aqui conhecemos Gustavo Barceló (uns anos mais novo), o pai e o avô de Daniel e também a sua mãe, Isabella, e o grande amigo dela, David Martín (personagem principal).
Outra das coisas de que senti falta foi do humor de Fermín... Já sabia que este personagem não fazia parte deste livro, mas ainda pensei que os seus momentos divertidos seriam "transportados" para outro personagem, o que não aconteceu...
Ainda assim é um excelente livro com uma escrita mágica que nos prende entre o que é ou não real e ficamos a pensar se tudo o que Martín descreve lhe terá acontecido realmente desse modo... Recomendo!
Como já te disse eu gostei mais deste mas de qualquer forma fico feliz de que tenhas gostado :D
ResponderEliminarSim gostei, mas ficou um bocadinho aquém das minhas expectativas... Não sei muito bem do que estava à espera, mas senti falta do sentido de humor do Fermín... Agora quero ler o terceiro que vais juntar isto tudo ;)
EliminarNa verdade ainda falta também um quarto volume que vai completar o terceiro :P
EliminarAh pois é... Eu só espero que o terceiro não fique com as ideias todas no ar e depois temos de ficar em sofrimento à espera do último...
EliminarReceio que vai ser assim... O terceiro termina demasiado cedo, não tem uma conclusão :(
EliminarMas que sina a minha... Estou condenada a esperar pelos livros dos meus autores de eleição...
EliminarTenho que pegar no A Sombra do Vento, nos próximos meses.. ou isso ou dá-me uma coisinha má. lol E este já está ali na estante tb. Apesar de tudo, adoro Zafón :) e estou super curiosa.. mas é normal que o segundo livros das trilogias nunca nos cativem tt, não é? hehe
ResponderEliminar* mary red hair *
Lê Mary que não te vais arrepender ;)
EliminarEu acho que vou deixar de ler os segundos livros das trilogias LoooooL
Viva,
ResponderEliminarDeste escritor apenas li A Sombra do Vento e gostei muito, tenho uma colega no emprego que é admiradora do escritor e farta-se de me recomendar para que leia os seus livros.
A ver se lhe dou uma oportunidade, ele há escritores que não sabem escrever mal :D
Bjs
Boas ;)
EliminarOlha desde que li A Sombra do Vento que fiquei rendida à escrita deste senhor! Envolve-nos de uma maneira muito própria e gosto muito disso.
Acho que lhe deves mesmo dar uma oportunidade, que não te vais arrepender ;)
Beijinhos
A Série "O Cemitério dos Livros esquecidos" é fantástica, inesquecível, viciante.
ResponderEliminarAdorei quer o Jogo do Anjo, quer o seu antecessor A Sombra do Vento. Quanto ao Prisioneiro do Céu, ficou um pouco aquém das minhas expectativas, mas mesmo assim li com muito prazer.
Veremos o que o autor nos reserva, com a última parte desta história magistral.
Continuação de boas leituras, boas férias se for caso disso.
N.
Eu fiquei rendida logo nas primeiras páginas de A Sombra do Vento :)
EliminarAgora estou a arranjar um "buraco" para ler O Prisioneiro do Céu... E depois ficar à espera do final (parece que só leio séries inacabadas...)
Obrigada*