A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O Prisioneiro do Céu


Segundo a minha experiência pessoal, quando alguém descobria aquele local, a sua reacção era de encantamento e assombro. A beleza e o mistério do recinto reduziam o visitante ao silêncio, à contemplação, ao sonho. Como é óbvio, a reacção de Fermín teve de ser diferente. Passou a primeira meia hora hipnotizado, deambulando como um possesso pelas passagens do enorme quebra-cabeças que era o labirinto. Parava para bater com os nós dos dedos em arcobotantes e colunas, como se duvidasse da sua solidez. Detinha-se em ângulos e perspectivas, fazendo um telescópio com as mãos e tentando decifrar a lógica da estrutura. Percorria a espiral de bibliotecas com o seu considerável nariz a um centímetro da infinidade de lombadas alinhadas em suas sem fim, escrutinando títulos e catalogando tudo quanto descobria. Seguia-o a poucos passos, entre o alarme e a preocupação.
Começava a suspeitar que Isaac nos expulsaria a pontapés, quando, numa das pontes suspensas entre as abóbadas de livros, choquei com ele. Para minha surpresa, não só não se lia no seu rosto qualquer sinal de irritação como sorria bem-disposto, ao contemplar os progressos que Fermín ia fazendo na sua primeira exploração do Cemitério dos Livros Esquecidos.
O seu amigo é um espécimen bastante peculiar - observou Isaac.

Não sabe o senhor a que ponto.

Barcelona, 1957.
Voltamos à "actualidade", ou seja, voltamos a encontrar Daniel Sempere e Fermín Romero de Torres na livraria Sempere e Hijos que conhecemos em A Sombra do Vento. 
Tudo o que senti falta em O Jogo do Anjo está de volta, tanto os personagens principais como o humor fantástico de Fermín. Mas agora temos uma perspectiva diferente da vida de Daniel, visto termos conhecido o passado dos seus pais.

O livro anterior, dando um salto no tempo, permite fazer a ponte entre o passado e o presente, a respeito da existência de Daniel. Mas e Fermín? O misterioso personagem que "caiu do céu" em A Sombra do Vento, que se tornou amicíssimo tanto do senhor Sempere como do seu filho Daniel, que descobriu o amor nos braços da Bernarda... Quem é este homem afinal? Será que foi assim tão ao acaso que tropeçou na vida de Daniel e foi trabalhar para a livraria? Que segredos afinal esconde Fermín? 

Em O Prisioneiro do Céu conhecemos a história de vida de Fermín, e podemos fazer a ponte entre este livro e o Jogo do Anjo.

Apesar de ter sido, dos três o que menos gostei, adorei conhecer a difícil vida de Fermín e é pena que esta fantástica saga não tenha ainda o seu desfecho. Ficam muitas questões em aberto e, talvez tenha sido esse o facto que mais contribuiu para a classificação mais fraca que dei a este livro.
Ainda assim, continuo rendida à escrita e ao estilo de Zafón e recomendo este livro tal como os anteriores.

2 comentários:

  1. Olá Cristina,
    Eu adoro o Zafón e estou a adorar esta trilogia. Também não adorei este livro, mas gostei bastante =)
    O meu preferido é A Sombra do Vento, talvez por ter sido o primeiro que li ;)
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Tita :)

      Tal e qual! Apixonei-me pela escrita de Zafón com A Sombra do Vento (também foi o primeiro livro dele que li) e continua a ser o meu preferido!

      Eliminar