Ainda me lembro daquele amanhecer em que o meu pai me levou pela primeira vez a visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos. Desfiavam-se os primeiros dias do Verão de 1945 e caminhávamos pelas ruas de uma Barcelona apanhada sob céus de cinza e um sol de vapor que se derramava sobre a Rambla de Santa Mónica numa grinalda de cobre líquido.— Não podes contar a ninguém aquilo que vais ver hoje, Daniel — advertiu o meu pai. — Nem ao teu amigo Tomás. A ninguém.— Nem sequer à mamã? — inquiri eu, a meia-voz.O meu pai suspirou, amparado naquele sorriso triste que o perseguia como uma sombra pela vida.— Claro que sim — respondeu, cabisbaixo. — Para ela não temos segredos. A ela podes contar tudo.(…)— Daniel, não podes contar a ninguém o que vais ver hoje. Nem ao teu amigo Tomás. A ninguém.Um homenzinho com traços de ave de rapina e cabeleira prateada abriu-nos a porta. O seu olhar aquilino poisou em mim, impenetrável.— Bom dia, Isaac. Este é o meu filho Daniel — anunciou o meu pai. Está quase a fazer onze anos, e um dia ficará ele a tomar conta da loja. Já tem idade para conhecer este lugar.O tal Isaac convidou-nos a entrar com um leve gesto de assentimento. Uma penumbra azulada cobria tudo, insinuando apenas traços de uma escadaria de mármore e uma galeria de frescos povoados de figuras de anjos e criaturas fabulosas. Seguimos o guardião através daquele corredor palaciano e chegámos a uma grande sala circular onde uma autêntica basílica de trevas jazia sob uma cúpula retalhada por feixes de luz que pendiam lá do alto. Um labirinto de corredores e estantes repletas de livros subia da base até à cúspide, desenhando uma colmeia tecida de túneis, escadarias, plataformas e pontes que deixavam adivinhar uma gigantesca biblioteca de geometria impossível. Olhei para o meu pai, boquiaberto. Ele sorriu-me, piscando-me o olho.— Bem-vindo ao Cemitério dos Livros Esquecidos, Daniel.
Completamente devorado!É incrível como este livro nos prende desde as primeiras páginas e nos guia numa viagem pelas ruas de Barcelona na companhia do Daniel em busca da vida de um tal Julian Carax que desapareceu na sombra do vento e de quem pouca gente ouviu falar...São estes os ingredientes que Carlos Ruíz Zafón misturou com uma escrita soberba e que fizeram deste livro aquilo que é.
Fiquei completamente rendida, e recomendo vivamente a sua leitura!
Também gostei muito, muito!
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