A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert


Toda a gente falava do livro. Nas ruas de Nova Iorque, eu não podia deambular em paz, não podia fazer jogging nas alamedas do Central Park sem me cruzar com transeuntes que me reconheciam e exclamavam: ≪Oh, é Goldman! É o escritor!≫ Por vezes acontecia alguns tentarem correr para me acompanharem e fazerem as perguntas que os intrigavam: ≪O que diz no seu livro e verdade? Harry Quebert procedeu realmente assim?≫ No cafe de West Village que eu frequentava, certos clientes não hesitavam em sentar-e à minha mesa para falar comigo: ≪Estou a ler o seu livro, Sr. Goldman: não consigo parar! O primeiro já era bom, mas este então! Pagaram lhe mesmo um milhão de dólares para o escrever? Que idade tem? Só trinta anos? Trinta anos! E já amealhou tanto dinheiro!≫ Até o meu porteiro, que eu via avançar na leitura do livro sempre que eu entrava no prédio, acabara por me deter demoradamente em frente do elevador, depois de terminada a leitura, para me confiar o que lhe ia no coração: ≪Então, foi mesmo isto que se passou com Nola Kellergan? Que horror! Mas como se chega àquele ponto? Hem, Sr. Goldman, como é possível?≫
Toda a cidade de Nova Iorque se apaixonava pelo meu livro; fora publicado há duas semanas e já prometia ser o livro mais vendido do ano no continente americano. Toda a gente queria saber o que acontecera em Aurora em 1975. Falava-se dele em todo o lado: na televisão, na rádio, nos jornais. Eu tinha apenas trinta anos e com este livro, que era simplesmente o segundo da minha carreira, tornara me o escritor mais famoso do país.
O caso que agitava a América, e ao qual fora beber o essencial da minha narrativa, eclodira alguns meses antes, no início do Verão, quando foram encontrados os restos mortais de uma jovem desaparecida trinta e três anos antes. Foi assim que teve início a série de acontecimentos que aqui serão relatados, e sem os quais a pequena cidade de Aurora teria certamente continuado a ser desconhecida no resto da América.

Foram estas as palavras que me despertaram interesse quando um dia, após ter esbarrado com prateleiras cheias com este livro por diversas vezes em várias livrarias, decidi pegar-lhe e ver de que se tratava afinal esta verdade. Percebi que era o policial que eu andava a aguardar ansiosamente, depois de ter ficado completamente rendida a Stieg Larsson. Tinha tudo para ser um livro que me ia prender do início ao fim e que ia devorar em menos de nada. 

Ao começar a leitura, percebi que havia uma característica interessante e diferente: os capítulos eram numerados por ordem decrescente e fiquei intrigada. Imaginei que iriam decerto haver saltos no tempo ao longo de todo o livro, o que ainda me deixou mais curiosa. 

Realmente as primeiras cem, duzentas páginas foram devoradas, mas a partir daí a leitura começou a arrastar-se e a tornar-se monótona. Começaram a repetir-se conversas entre os personagens, se bem que com alterações de contexto e situações, e parecia que a ação não avançava. 

Depois, são evidentes os erros de tradução. Será que alguém reviu o livro antes de este ser publicado?! A falta de palavras em algumas frases é por demais evidente e torna-se estranha. 

A narrativa em si é interessante, o modo como está estruturado também e a reviravolta dos últimos capítulos apanhou-me completamente de surpresa, mas penso que tudo isto teria sido igualmente interessante num livro com menos páginas, o que se traduziria em menos repetições e saltos no tempo (perdi a conta às viagens entre 1975 e 2008, com outras paragens pelo meio, muitas delas a acontecimentos anteriormente descritos em que apenas mudava o narrador).

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