Muito em breve, iria poder desfrutar daquele estilo de vida em qualquer parte do mundo. Acabavam-se as salas de espectáculos húmidas de suor e com coristas amadoras. Acabava-se a prostituição dissimulada. Decidira fugir meses atrás. Aquela era a última noite. No dia seguinte estaria livre.
Perguntava a si mesma se iria ter saudades daquilo — do poder que sentia no palco, do desejo nos olhos dos homens quando gritavam o seu nome: «Amira!»
Amira Luz. A beldade espanhola de pele escura e olhos provocantes. O cabelo comprido e acetinado. O nariz angulado como uma lâmina. O corpo cheio de curvas sensuais. Amira Luz — a deusa do Sheherezade.
Sim, iria ter saudades. Estava em Las Vegas, onde tudo era sensual. A voz de Sinatra. Os diamantes no pescoço de uma mulher. Até o fumo de um cigarro acabado de acender. Podia bambolear-se pelos casinos e ouvir os murmúrios espalhar-se atrás de si. Em Las Vegas, era uma estrela. Se abandonasse as luzes da ribalta, não poderia voltar. Mas deixaria de ser uma prisioneira.
Depois de Segredos Imorais me ter deslumbrado pela simplicidade da escrita e a capacidade de nos surpreender e agarrar a todo o enredo, estava ansiosa por viajar por esta Cidade Inquieta.
Com o mesmo estilo e as mesmas divisões (quatro partes), pois costuma dizer-se que "em equipa que ganha não se mexe", Freeman transporta-nos até à cidade do pecado e deixa-nos envolvidos num misterioso crime que aconteceu há mais de quarenta anos mas que continua por explicar e com umas quantas pontas soltas...
Não sei porquê, mas desta vez não estava tão desperta para os pormenores lançados ao longo do livro ou então eles pura e simplesmente não estavam lá, e foi uma completa surpresa perceber o que realmente tinha acontecido em 1967.
Contudo, desta vez, a conclusão do crime e o desmascarar do principal suspeito pareceram-me um pouco exaustivos, com muitas repetições dos nomes das personagens ao longo do texto o que, a certa altura, me deixou um pouco perdida.