A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Tormenta de Espadas (Crónicas de Gelo e Fogo #5)

O som durou, durou e durou, até parecer que nunca terminaria. Os corvos batiam as asas e guinchavam, voando nas suas gaiolas e esbarrando nas barras, e por todo o acampamento os irmãos da Patrulha da Noite levantavamse, vestiam as armaduras, prendiam cintos de espadas, estendiam as mãos para machados de batalha e arcos. Samwell Tarly desatou a tremer, com a cara da mesma cor da neve que caía, rodopiando, a toda a volta.
- Três, - guinchou para Chett - aquilo foram três, ouvi três. Nunca fazem soar três. Há centenas e milhares de anos que não fazem soar três. Três quer dizer…
- …Outros. - Chett soltou um som que era metade gargalhada e metade soluço, e de súbito a roupa de baixo estava molhada, sentia o mijo a escorrerlhe pela perna, e via vapor a evaporarse da frente das suas bragas.


O que dizer de GRRM que não seja repetir-me? 
Depois de lidos cinco volumes (estou a meio dos livros publicados) continuo cada vez mais viciada nestas Crónicas de Gelo e Fogo e sempre a querer saber mais sobre estas personagens.
Ainda fico surpreendida com o sofrimento implantado e com as descrições dos vários locais por onde vão passando e as batalhas que vão travando.
A luta dos cinco reis pela ocupação do trono de ferro está longe de chegar ao fim, não sendo, por isso, nada fácil de prever quem o irá ocupar no final... 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Funeral da Nossa Mãe


          A decisão que Carolina tomara afectaria toda a sua vida e, inclusivamente, o momento que escolheria para a sua morte. Enquanto se encaminhava sob o braço da irmã, que já a ultrapassara em altura, para a festa dos Esteves – para festejar o final das suas alegrias – ia mordiscando incessantemente o interior dos lábios. A avó sentara-se com ela na penumbra e aconselhara-lhe coisas impensáveis. Indecentes, imorais. Mas perfeitamente capazes de funcionar. E ela tinha de arriscar tudo, fosse a sua reputação, fosse o modo inocente e honesto como Lourenço a via.
(…)
        A avó dissera-lhe que a mulher é biologicamente talhada para atrair o homem a si. Garantira-lhe que, depois de os lábios dele provarem os dela, ou de a sua mão roçar a calidez das suas coxas, não haveria retorno possível. Ela teria ganho a batalha, se não a guerra. Ainda assim, a ideia de o ludibriar, chamando-o e seduzindo-o, fazia-a envergonhar-se de si própria.
(…)
Ele passou o rosto dela em revista, tentando discernir a sua amiga de infância no interior daqueles olhos claros e tomados de luxúria. (…) Passou em revista as vezes que tinham estado a sós à beira-rio e sentindo-se torturado pelas imagens do corpo dela, sarapintado de gostas de água, a reluzir ao sol. Como é que nunca a vira desse modo? Provavelmente, tinha sido a fantasia dela durante os últimos anos e, se ao menos não tivesse sido tão cego, ter-se-ia apercebido de que ela se transformara numa mulher de beleza singela e formas perfeitamente desejáveis.

Depois de tantas boas opiniões lidas, cedi à curiosidade de pegar neste livro e acabei por conhecer a autora :-) 

Ao folhear as páginas antes de começar a ler, dei-me conta que havia muitas descrições e fiquei um bocadinho de pé atrás. Mas logo nas páginas iniciais tive uma agradável surpresa e as longas descrições tornaram-se facilmente devoráveis e envolventes, facto que se deve à fantástica escrita da Célia.


A história em si não é nada que de um modo ou outro não tenhamos já lido/visto em outros livros ou filmes, mas os segredos que esta família guarda são revelados de um modo que nos mantém em suspense até às últimas linhas e deixa-nos a querer mais. Dei por mim a simpatizar com a Ingrid e a embirrar com a Carolina, a não compreender algumas atitudes da protagonista no seu amor incondicional a Lourenço... 



Gostei muito de conhecer a Vila Flor algures perdida pelo "meu" Alto Alentejo, ali bem perto da minha terra (que também mereceu ser mencionada, ainda que apenas por breves instantes, no início do livro) e que de tão semelhante a qualquer uma daquelas vilas e aldeias traduz um bocadinho de cada uma delas e dos seus habitantes. As pessoas, as casas brancas nas ruas empedradas ou até mesmo o calor desértico que se faz sentir todos os verões...