A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one. (George R. R. Martin)

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Último Conjurado


Havia já algum tempo que um cavaleiro solitário os seguia, escondendo-se nas sombras e ninguém parecia dar pela sua presença.
A uma dada altura, os nossos amigos saíram do coche e começaram a caminhar rapidamente, precedidos pelo criado que lhes alumiava o caminho.
De tempos a tempos, olhavam para trás, receando ser seguidos, mas nada viram de suspeito. Não se via nem ouvia vivalma.
Soprava um vento frio que abanava as folhas das árvores e as lançava ao chão, fazendo-as rodopiar. Por vezes, as estrelas ficavam ocultas por nuvens escuras, mas felizmente por breves momentos…
Aconchegaram melhor a capa ao corpo e Pedro levava a mão fincada no copo da espada, cauteloso como sempre.
Lá bem atrás, a sombra continuava a segui-los, disfarçadamente. Já não ia a cavalo.
Pouco depois, passavam pela igreja de São Domingos. Aproximaram-se do palácio de D. Antão e olharam em redor. Entraram ambos e o criado desapareceu na escuridão de uma rua.
O nosso sinistro espião conservou-se numa esquina onde podia ver sem ser visto. Os seus olhos brilhavam de excitação.
Passado algum tempo, o que viu deixou-o estarrecido. Apesar da pessoa em questão tentar esconder o rosto ao entrar no palácio, reconheceu-a.
Sentindo o coração aos pulos dentro do peito, encostou-se à parede, estupefacto.
– Meu Deus!… É o Dr. João Pinto Ribeiro, o agente dos negócios do duque de Bragança!… Que fará ele aqui?! – exclamou, perplexo. – E a esconder-se como um reles ladrão!… Só pode ser uma conspiração!… Meu pai vai gostar muito de saber disto!!…
– Talvez…, mas vossa senhoria nunca lhe dirá…
D. Manuel saltou de susto. Empalidecendo, virou-se, deparando com um vulto vestido de negro.
– Vosso pai não vos ensinou que é muito feio espiar os outros?…
– Capitão… capitão Gualdim!…
O mascarado tirou o chapéu e, galantemente, fez uma tal mesura que quase bateu com a testa no chão.
– Ao dispor de vossa senhoria…
D. Manuel desembainhou a espada, a tremer, e recuou. As últimas feridas causadas por ele ainda lhe estavam bem vivas na memória.
– Maldição! Pareceis uma alma penada!… Apareceis não se sabe donde e quando menos se espera…
O outro cavaleiro riu-se, trocista.
– Decerto não estais à espera de escapar, pois não…?
O fidalgo estremeceu. Nisto, deu meia volta e correu, mas poucos passos andou sem que lhe surgisse à frente o seu inimigo, de espada em riste. Sem o conseguir evitar, viu-se a terçar espadas com ele.
Sabedor da perícia do adversário, não tentava nenhuma investida, limitando-se a defender as suas prodigiosas estocadas, que o deixavam sem pinga de sangue a cada uma que conseguia defender.
Não haviam passado dois minutos e já ele fora ferido no antebraço esquerdo. Pálido como um morto, não sabia como se desenvencilhar dele.
De repente, um mocho em voo piou mesmo sobre as suas cabeças, sobressaltando Gualdim que descurou a defesa por segundos. Aproveitando aquele rasgo de sorte que o destino lhe proporcionara, D. Manuel lançou-se sobre ele, decidido a feri-lo mortalmente no coração. Mas, rápido como um relâmpago, Gualdim virou-se mesmo a tempo e aparou-lhe o golpe com tanta violência que o fez desequilibrar-se. Para não cair, agarrou-se ao que estava mais à mão: a máscara do espadachim. Viu-se com ela na mão, pasmado…
Levantou os olhos, abismado, sem poder acreditar na sua sorte. O que viu deixou-o tão assombrado, que cambaleou, com uma expressão de terror no rosto, sem querer acreditar no que os seus olhos viam.
– Sois vós!?! Meu Deus!!!… Não é possível!!…

Já passaram alguns anos desde a primeira vez que o li, mas ainda olho para ele na estante cada vez que vou buscar um novo livro... Já li e reli, mas nem por isso a história deixa de me surpreender, muito pelo contrário. Cada vez que o retiro da estante, nem que seja só para ler um excerto, consigo descobrir novos pormenores que por uma razão ou outra escaparam às leituras anteriores. 


Para conhecer melhor:

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A Muralha de Gelo (As Crónicas de Gelo e Fogo #2)

Sonhou um sonho antigo, sobre três cavaleiros em mantos brancos, uma torre há muito caída, e Lyanna na sua cama de sangue.
No sonho, os amigos cavalgavam consigo, como o tinham feito em vida. O orgulhoso Martyn Cassel, pai de Jory; o fiel Theo Will; Ethan Glover, que fora escudeiro de Brandon; Sor Mark Ryswell, de fala mansa e coração gentil; o cranogmano, Howland Reed; Lorde Dustin no seu grande garanhão vermelho. Ned conhecera-lhes em tempos os rostos tão bem como conhecia o seu, mas os anos sugam as memórias de um homem, mesmo aquelas que ele jurou nunca esquecer. No sonho, eram apenas sombras, espectros cinzentos montados em cavalos feitos de névoa.
Eram sete, a enfrentar três. No sonho, tal como acontecera na vida. Mas aqueles três não eram homens comuns. Esperavam defronte da torre redonda, com as montanhas vermelhas de Dorne nas suas costas e os mantos brancos a ondular ao vento. E esses três vultos não eram sombras; os seus rostos eram claros como brasas, mesmo agora. Sor Arthur Dayne, a Espada da Manhã, tinha um sorriso triste nos lábios. O cabo da grande espada chamada Alvorada espreitava-lhe por sobre o ombro direito. Sor Oswell Whent apoiava-se num joelho, afiando a sua lâmina com uma pedra de polir. O morcego negro da sua Casa estendia as asas sobre o elmo esmaltado de branco. Entre os dois, erguia-se o velho e feroz Sor Gerold Hightower, o Touro Branco, Senhor Comandante da Guarda Real.


Depois da "febre" iniciada no volume anterior e de todas a expectativas criadas, George Martin não me desiludiu. Muito pelo contrário, conseguiu ainda aumentar a fasquia da surpresa e do entusiasmo.

Leitura completamente viciante!